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quarta-feira, 26 de março de 2025
A explicação das Marchas Fúnebres e o (des)conceito da sua utilização!
O maestro Francisco Manuel Relva Pereira explica os conceitos das Marchas Fúnebres e o que diz ser o (des)conceito da sua utilização:
“Correndo o risco de não ser bem interpretado, e depois de algumas hesitações em escrever sobre a matéria que serve de título ao presente artigo, chegou o tempo de poder dar o meu contributo para dar a conhecer e esclarecer quem utiliza (ou não) as “marchas fúnebres”, não as adequando ao momento, às solenidades, e até mesmo desconhecendo a sua história, bem como e quando devem ser executadas.
Sabemos que essa responsabilidade é dos maestros, porquanto os diretores. “grosso modo”, não dominam a matéria, e a grande maioria dos músicos obedecem às indicações dos seus “regentes”, confiando na sua sabedoria, independentemente do seu nível de competência ou (des)conhecimento musical.
A exemplo: as "marchas fúnebres nas Procissões dos Passos e do Enterro do Senhor" referem-se a uma tradição comum em várias regiões de países de forte tradição católica, especialmente em Portugal e em Espanha, na Quaresma e na Semana Santa. Durante este período, as procissões religiosas representam o sofrimento e a morte de Jesus Cristo. As mencionadas marchas são peças musicais solenes e melancólicas, frequentemente interpretadas pelas Bandas de Música que acompanham as imagens dos Santos ou as figuras do sofrimento de Cristo nas ruas.
As procissões dos "Passos" referem-se às etapas ou "passos" que representam momentos específicos da Paixão de Cristo, onde as já citadas marchas acompanham essas representações de forma solene e com predicados artísticos específicos. Em muitas dessas procissões, as pessoas carregam imagens religiosas, onde essas “marchas tristes” criam uma atmosfera de profunda devoção e veneração.
Essas marchas fúnebres possuem um caráter simbólico, pois ajudam a criar um ambiente de luto e reflexão, convidando os fiéis a meditarem sobre o sacrifício de Cristo. As músicas, geralmente compostas por tons graves e lentos, evocam um sentimento de tristeza, compaixão e respeito pela morte de Jesus. A natureza fúnebre da música está intimamente ligada ao ato da morte de Cristo e na esperança da Ressurreição, que é celebrada no Domingo de Páscoa. Por esse motivo é que as tonalidades iniciais são sempre escritas em modo menor, terminando em maior para personificar a Ressurreição e o júbilo dessa mesma.
Ainda, segundo Ernesto Vieira e Salwa Castelo Branco, entre outros musicólogos que escreveram sobre o assunto em questão, as marchas funestas possuem uma menor dimensão que as restantes marchas de rua, de procissão, militares e outras, com as já citadas tonalidades. Para além da sua utilização na Quaresma, como já se explicou, além dos funerais, das cerimónias Jubilares e das romagens aos cemitérios que existem em algumas zonas do nosso território, tocam-se como “graves e mais lentas” em 4/4, 2/2 ou em passo dobrado 2/4, seguidas normalmente do “Motete ou Moteto”.
Essa forma de polifonia vocal à cappella, com o decorrer dos séculos, foi sendo enriquecida com algum acompanhamento instrumental, devendo ser entoada em língua vernácula, conforme decisão do Concilio Vaticano II, o qual permitiu o uso da língua mãe de cada nação para ser utilizada na liturgia. A entrada em vigor da primeira fase dessa reforma ocorreu a 07 de março de 1965 pela voz da Papa Paulo VI, tornando as suas práticas mais acessíveis ao povo, promovendo uma maior participação na vida da Igreja.
Essa reforma representou um movimento em direção a uma Igreja mais aberta e coerente com a realidade quotidiana das pessoas. Porém, passados 60 anos dessa decisão conciliar, infelizmente” ainda hoje teimam em não cumprir essa determinação, o que coloca em causa a constante renovação da Igreja.
Voltando ao tema central da utilização das marchas fúnebres, espero ter contribuído para aclarar e esclarecer um pouco da história da matéria ora apresentada, esperando não ferir qualquer outra opinião, mas apenas acrescentar o quando, o porquê e como deve ser utilizada.
Ao alertar "quando, porquê e como" utilizar essas marchas fúnebres, apenas pretendo “aconselhar” aos mais desatentos sobre a importância de uma utilização cuidadosa e contextualizada dessas peças musicais, sem perder de vista o seu significado e o seu poder de transformação emocional durante as diversas cerimónias. A sensibilidade histórica, cultural e espiritual é fundamental para garantir que essas marchas cumpram o seu papel de forma significativa, profunda e de respeito.”
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